Postado dia 06 abril 2015

O limite do cabeleireiro




Uns são limitados. Outros se limitam. Mas o fato é que todo profissional deve ter um limite, desde que bom, imposto por ele, assim também o cliente deve ter um limite próprio a ser demonstrado ao profissional. Vou abordar essa questão de uma forma prática no dia a dia, que irá ajudar a você profissional e a você cliente.



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Tenho visto muitas pessoas reclamarem que pediram algo para o profissional e ele fez do jeito dele e não a respeitou dando o "toque" dele. Outras reclamam que pediu algo ao profissional e ele fez o que não tinha nada a ver, como ter feito uma "californiana" com uma risca no meio e alaranjada, quando o que ela mostrou era uma ombrè hair.

Também tenho recebido comentários pessoalmente e emails de profissionais que dizem que a cliente "parece a Elza Soares e traz uma foto da Angelina Jolie querendo o cabelo igual, e perguntando se ele sabe fazer de modo a ficar bem parecida".

Sobre a questão ética, em relação ao cabeleireiro, eu já dei alguns pontilhados aqui no blog, confira:



Eu também já passei chateação com cliente, como também já vacilei com ele. E hoje, com um pouquinho mais de experiência, vejo o porque isso acontece (na maioria dos casos) e resolvi tentar ajudar a ambos os lados.

Por esse motivo seria legal que você compartilhasse esse post no seu facebook, e marcasse suas clientes, ou seu cabeleireiro, não para criticar a pessoa, mas para dizer algo do tipo "ei fulano, olha que coisa bakana, podemos nos acertar melhor e nos entender mais fácil, leia". Entendeu? Afinal, clientes meus também lêem minhas matérias, e sabem que faço como estou dizendo aqui.

Muitos desacertos acontecem pelos seguintes motivos (principais):

  1. O cliente não tem noção, ás vezes, da própria noção de beleza nem de técnica (incompatibilidades químicas, por exemplo);

  2. O profissional não tem técnica para fazer o que lhe é pedido;

  3. A cliente tem uma expectativa muito maior do que lhe pode ser entregue;

  4. O profissional promete um resultado maior do que ele sabe que pode conseguir e conta com a sorte;

  5. A cliente não sabe se expressar, como o que quer, como quer que fique no final;

  6. O profissional não sabe ouvir e não consegue captar, entender, a vontade do cliente

Eu poderia citar vários problemas, mas esses se resolvidos, irão eliminar 90% das chances de no final alguém ficar insatisfeito.

Para citar exemplos de "conversas" bem sucedidas, vou sugerir que você siga nosso Instagram @cabelosesonhos para ficar por dentro do nosso dia a dia. Vale a pena.

Agora minha orientação como profissional que todo dia passa por isso.

Converse direito com seu profissional e com sua cliente. Seja sincero e honesto, sem medo de desagradar ou de perder.

Procure saber o que ela quer e avalie se você tem condição de fazer aquilo do jeito que ela está pedindo, e se é adequado para ela. Se você não sabe ou não tem técnica ainda, diga isso, Não "ache" que sabe e vá tentar a sorte. Seja honesto, sua sinceridade irá ganhar mais do que um cabelo mal feito. Isso lhe dará mais valor.

Falando em valor, há uma diferença entre preço e valor de profissional, qual o seu? Confira nessa outra matéria:

Quando me perguntam sobre algum produto que não conheço eu digo "não conheço". Ponto. Quando me perguntam sobre algum tipo de procedimento que não sei fazer, não conheço eu digo "nunca ouvir falar". E não tenho perdido clientes por isso, pelo contrário, tenho ganhado a confiança das pessoas.

Obviamente que após saber daquilo, como um corte, um tratamento, um procedimento de coloração, que não tenho domínio AINDA, eu vou em busca de saber, fazer cursos, para ficar em dia.  Daí a importância de se atualizar.

Já você que é consumidora dos serviços, e por que não dizer da "capacidade profissional" do seu cabeleireiro, deve também se fazer entender. Você quer ficar igual a Angelina Jolie, então pergunte "tá vendo essa foto da Angelina Jolie, tem como me deixar com o cabelo 100% igual o dela nessa foto?". Não espere que o profissional tenha bola de cristal (que também não adianta nada!) para imaginar como você quer.

Digo isso porque às vezes percebo que a pessoa não acha o corte curto da Deborah Secco bonito, ela acha a própria bonita e não quer o corte dela, e sim ser ela. Porém a pessoa tem 1,45 mts, 130kg e tem a pele parda. O que acha que vai acontecer no final se o cabeleireiro fizer, simplesmente o corte?

Isso que eu quis dizer com respeito à expectativa.

Tem pessoas que chegam até mim com essa visão e eu lhes explico calmamente que existem algumas diferenças que não são compatíveis com aquela "foto". Eu procuro extrair detalhes da pessoa para saber o que ela realmente quer.

Mas e se a pessoa não se deixar entender, ou for daquelas que viram a cara em sinal de "assim não quero, não vim aqui pra isso, e se você não fizer como EU quero então não precisa" eu apenas digo bem simples "não tenho como te ajudar!"

Ha pessoas que chegam aqui querendo um cabelo que fiz, por exemplo, e esse cabelo que fiz é um platinado ondulado. Mas o cabelo da pessoa está danificado e tem coloração de tinta escura. Então lhe digo que daquela maneira não dá pra ficar no momento, que será necessário que ela trate o cabelo e dê a ele condição, e que se ela quiser podemos fazer mechas mas clareando bem menos, em tons de mel (aqui estou dando um exemplo hipotético, imaginário, de uma conversa).

Se ela gostar da idéia, ainda assim faço questão de mostrar foto (o google ajuda) de como o resultado final ficará, para que então ela exclua da mente dela a expectativa do platinado. Geralmente eu, as vezes, gasto 30 minutos conversando com uma pessoa sobre o corte, para em 10 minutos corta-lo realmente. No final os dois lados ficam felizes.

Profissionais, entenderam que é super vantajoso ser sincero e ouvir com atenção e carinho a cliente, e não querer fazer mais do que lhe é pedido, ou fazer menos deixando uma expectativa de que fará muito mais?

Cliente, viu como é vantajoso explicar, e fazer o profissional entender você da maneira correta e também entender que certas coisas o cabeleireiro está evitando fazer para não lhe prejudicar?

Em tempo: quando uma cliente me pede para fazer um penteado para festa eu digo: "não sei fazer, quer que lhe indique alguém?". E não tive vontade de voltar a fazer nos últimos anos, e nem por isso perdi clientes.



Sobre o autor:

Marlon Bruno é cabeleireiro desde 2004 e atua na região metropolitana de Belo Horizonte/MG. Já atendeu também em salões pelo Brasil. Como professor de cabeleireiro formou dezenas de alunos no início de sua jornada e já ministrou cursos para profissionais experientes. Como blogueiro compartilha conhecimento através das matérias e faz do blog sua sala de aula.